segunda-feira, 16 de agosto de 2010

O QUE FAZER PARA QUE NÃO SE FECHEM AS ESCOLAS (2)




Em 1992, aquando da minha permanência nos Açores, ao serviço da instituição que, lá, corresponde à Acção Social da Segurança Social, fui coordenador de um projecto que tinha, como parceiro, uma entidade com sede em Caen, em França (Normandia).
Numa deslocação a essa zona, tive oportunidade de conhecer a experiência de uma aldeia "ressuscitada", cujo nome não recordo, mas que ficava perto de St. Marie de L'Eglise (esta, sim, eternizada pelo episódio da chegada dos paraquedistas americanos, no "Dia D").
A história conta-se rapidamente.
A aldeia estava a desertificar-se. Fechou a Escola, fechou a Farmácia, fechou a padaria, o café/restaurante, fechou o posto dos correios, o balcão bancário, tudo por falta de gente que justificasse a existência desses serviços.
O presidente da instituição que, aqui, seria semelhante à Junta de Freguesia, estava preocupado, mas passou à acção, correndo, claro está, riscos.
Reuniu com a população, apresentou o seu plano, que, de imediato, passava pela constituição de uma espécie de cooperativa, constituída pelas forças vivas e seus habitantes que, de imediato, adquiriu ou arrendou (não me recordo) a padaria, o café/restaurante e a farmácia (que, recordo, haviam fechado). Depois, colocou anúncios na imprensa nacional e regional, onde se cedia a exploração desses três equipamentos, gratuitamente (sem custos de arrendamento), durante 5 anos, a quem estivesse habilitado para tal, desde que quem com eles ficasse se mudasse, com a família, para a aldeia e tivesse, no mínimo, 2 filhos em idade escolar .
Vieram 3 famílias, 2 do Sul de França e outra da região de Paris. No conjunto, 9 crianças...
Ora, com 9 crianças mais as que ainda estavam na aldeia, a escola podia reabrir; mas aqui a cooperativa local também se movimentou : disponibilizava casa gratuita ao docente que lá fosse colocado, desde deslocasse a família e, no mínimo, tivesse um agregado de 5 pessoas.
Ora, com quase 20 novos habitantes, 4 novas famílias, mais movimento económico, o balcão bancário foi reactivado...

Mais uma vez, funcionou a população organizada, num movimento cidadão para, juntos, resolverem o problema, animados pelo seu Autarca e assumindo responsabilidades cidadãs.

É só mais um exemplo, suscitado pelas 701 escolas cujo fecho se anunciou, tentando trazer para a discussão um conceito de contestação construtiva, onde se constroem ideias colectivas, de raiz local, para resolver as questões.
Dei, muitas vezes, quando fui docente na licenciatura em Serviço Social, este exemplo aos meus alunos, para ilustrar a força da cidadania.