terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Pobreza : Um exemplo de como a combater com simplicidade...


Começo a estar saturado de tantas campanhas (necessárias, reconheço), para garantir que se recolham géneros, se somam donativos, se vendem estandartes do "menino jesus" por 12 euros.
Hoje vi, que um Restaurante em Maximinos, Braga, chamado a "Rampinha", aparecia, muito justamente, na RTP 1, dizendo que disponibilizava refeições, ao Almoço e Jantar, para quem não tinha meios.
Li, no JN, julgo que, no sábado, que a cidade do Porto é o local onde existem mais apoios para os sem-abrigo que, de todo o País, para lá convergem. Eu mesmo, em 2007, fui voluntário, para tal, nessa Cidade.

Mas queria dar um testemunho de algo mais "radical".

Conheço um micro empresário de construção civil, com a sua actividade legalizada ( abriu actividade e paga as suas contribuições...) que, quando, em Lisboa (onde trabalha), algum surge a pedir esmola, ele faz-lhe um simples convite : "Vem almoçar comigo, depois, se quiseres trabalhar para ganhar dinheiro, eu pago X por dia, comprometes-te por uma semana e tu experimentas e continuas se quiseres".
Esse jovem brasileiro, pois também chegou cá quase sem nada (mas hoje com actividade legal, repito), optou por algo que só o dignifica e a quem está excluído : associar a remuneração/apoio económico a um trabalho !
Mas este micro-empreendedor disse-me outra coisa : falou-me de alguém a quem fez tal proposta e que, ao fim de alguns dias, desistiu porque, todos os fins de semana, está, muito "bem vestido" e "cheiroso", no Aeroporto de Lisboa, dizendo que perdeu a bagagem, o voo, e assim, ganha mais, pedindo o apoio a quem passa.
Ou seja, este "excluído" tarda a ASSOCIAR O SALÁRIO A UM DESEMPENHO SOCIAL REMUNERADO. O SALÁRIO (MARX, AFINAL TINHA RAZÃO) É A RELAÇÃO ESTRUTURANTE DA SOCIEDADE ...

A minha homenagem a este brasileiro/português "empreendedor" pobre, contudo cristão dos "quatro custados", pois filia estes actos nesta sua militância de Fé, que de si mesmo diz não "ser estudado" (ou seja, não tem a escolaridade da sua idade) e resiste (infelizmente, até hoje...) a processos para tal, mas tem uma perspectiva praticista do que é ser cristão. Mais do que qualquer Presidente do CNIS, UNIÃO DAS MISERICÓRDIAS OU AFINS...
Porque o conheço, estimo e valorizo, aguardo, ardentemente, que ele perceba que existe o RVCC ou o RVCC-PRO e, finalmente, perceba que "ser estudado" não é ir para a Escola, mas, simplesmente, conquistar o lugar a que tem direito, pelas suas competências pessoais e profissionais adquiridas ao longo da vida.
Por razões evidentes, embora me apetecesse, não digo o seu nome.

Aquela ideia de oferecer trabalho a quem pede esmola é magnífica, simples, prática, sem custos, mormente, num ramo (obras, construção civil) onde, mesmo em termos informais, não existe muita gente que queira "vergar a mola" ! Mereceria abrir um TeleJornal, de cidadãos também eles com problemas, mas, por isso, de boas notícias, de atitudes positivas, pois se a "crise" existe, temos de ter imaginação para a combater...

Gostava que, com todos os riscos, houvessem outros micro-empresários destes. Que não só "chorassem", mas AGISSEM.
Combateríamos a Pobreza, de facto e com frutos imediatos, junto de quem é pobre.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

O que me poderia levar a fazer greve, hoje ...


Ponto de ordem 1: Não faço greve simplesmente porque, como trabalhador independente, mais própria mente consultor, tal não me assiste; aliás, trabalho muitos sábados , domingos e feriados, quando me apetece e é necessário, logo, dizer que faria Greve seria uma figura de retórica.


Ponto de orem 2 : Vivo, desde 1993, todas as situações que hoje são invocadas para fazer greve, como trabalho precário, recibos verdes verdadeiros, falsos recibos verdes, etc; sinto na pele, há muito, a dita "crise" logo, sei, por experiência, a mesma é estrutural, do MODELO ECONÓMICO DO NEO-CAPITALISMO LIBERAL , logo não é culpa específica deste governo, mas do dito MODELO, logo, como a greve é personificada neste Governo, não a faria nunca, pois o objectivo está enviesado; teria sido mais fácil estar num das manifestações anti NATO (essas sim, contra este MODELO de economia...).



Contudo, algo me faria fazer Greve, se o motivo invocado fosse esse:

A INCAPACIDADE DOS PARTIDOS DE ESQUERDA (PS, PCP, VERDES, BE), NO PARLAMENTO, CONSTRUÍREM UMA PLATAFORMA PARLAMENTAR QUE TIVESSE POSSIBILITADO UM OUTRO ORÇAMENTO, OUTRAS MEDIDAS DE POLÍTICA ECONÓMICA E SOCIAL, ENFIM, UM COMPROMISSO Á ESQUERDA.


E aí a culpa não é só do Governo e do PS, é da restante Esquerda.


Faria, com muito gosto, uma Greve contra isso, contra uma Esquerda parlamentar (ou "para lamentar") que torna IMPOSSÍVEL uma política diferente e vai entregar, de "mão beijada", o Poder á Direita do PSD...
Por isso, faria ESSA greve e não ESTA.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Um DESERTO de Acção Social, no Concelho do Marco




A Associação ARANDUM, de Alpendurada, Marco de Canaveses, desenvolve uma campanha de apoio a uma jovem aluna do 12º ano, Sara Vieeira, com necessidades educativas especiais.
Os colegas bloguistas do Marco (MarcoHoje, Marco2009 e marcoensecomonos reproduzem esse apelo).
Ele leva-me ao desastrado (não digo, por enquanto, desastroso) trabalho do Gabinete de Acção Social da Câmara do Marco
Para quem não sabe, foram criadas, quase há 10 anos, como competência das Câmaras, as Redes Sociais Locais, ou seja, um fórum INSTITUCIONAL onde, por força legal (a Câmara, as Juntas, o IEFP, a Segurança Social, a Saúde), ou por desejo próprio, instituições e mesmo, PESSOAS, ligadas á Acção Social, têm assento, precisamente para planear a acção municipal, rentabilizar e articular energias, recursos e ideias e, também, fazer intervir. Ou seja, um orgão de planeamento, mas, também de cordenação da acção, por isso mesmo presidido pela Câmara.
Em nome de uma instiuição, fiz parte do Plenário da Rede Social do Marco de Canaveses, entre Novembro de 2007 e Março de 2010. E intervi, mesmo polémicamente. Pude, aí, observar o trabalho inconsequente, o exercício de poder pessoal, a autêntica "missa" (no sentido caricato do termo), que essas reuniões de plenário eram. Quando Manuel Moreira (MM) não ia, a Vereadora demonstrava a sua ignorância, medos e respondia, com evasivas e, por vezes, com erros, ás questões. As actas, embora sejam uma vergonha, porque omitem factos, conseguem, ainda, retratar tal funcionamento. No meu caso pessoal, que em Março/Abril de 2009 reportei no "MarcoHoje", ficou clara a profunda incompetência da estrutura do Gabinete e do Chefe de Departamento, assim como do Presidente, perante quem dominava a temática e a legislação, no caso o Contrato Local de Desenvolvimento Social, ao que MM respondeu como um arruaceiro.

Adiante...
Se, no Marco, houvesse uma Rede Social a sério, o caso da Sara teria sido, articuladamente, analisado e, talvez RESOLVIDO, pela Câmara, Segurança Social e Saúde (que, por sinal, fazem parte do Núcleo Esxecutivo da dita Rede Social-mais um "altar" onde MM diz as suas "missas"- decerto com o apoio do "braço" que seria o Gabinete de Acção Social). Mas porque as estruturas onde a Câmara tem liderança, no Marco, são instâncias de um serôdio culto do centralismo e do clientelismo, está tudo dito.
Como cidadão, "aponto o dedo" ao Núcleo Executivo da Rede Social, no caso da Sara. E ao dito Gabinete ("his master voice"), que, se fizesse articulação entre os agentes sociais, conseguiriam aquilo que se lhe pede : ninguem diz que a Câmara tem de substituir a Saúde ou Segurança Social, mas que, precisamente, deve chamar esses parceiros e articular os seus recursos - tem autoridade para tal - no sentido de resolver o problema.
Mas, com dizem os brasileiros, "cada macaco no seu galho".
Existe uma pofissão que se chama Assistente Social, que tem competências científicas, técnicas e instrumentais para saber como isso se faz, mormente essa mediação. E ao que sei, MM não tem nenhum Assistente Social no "seu" Gabinete de Acção Social.
[Não esto a reclamar emprgo para ninguém : á única Assistente Social que tnho na família está, há muito, empregada, mas conheço alguns jovens marcoenses licenciados nesse curso á procura de trabalho...]
Assim, á incompetência política junta-se a falta de competências técnicas.
Admiro as campanhas de benevolência e solidariedade pessoal; são necessárias, porque resposta da sociedade civil; é a Cidadania em acção, no concreto. Mas isso não substitui nem faz esquecer a omissão de quem se devia articular para resolver. Ou a chocante incompetência de Presidentes de Câmara, de Vereadores,de Chefes de Departamento, de Gabinetes (enfim, estrutura do Poder Local) que têm a competências (as tais de articular recursos...) que não exercem.
E quando estão pessoas em jogo, é, no mínimo, um crime moral.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Homenagem á minha Mãe



Faz amanhã, dia 12 de Novembro, um ano que faleceu a minha Mãe.


Há pouco menos de um ano, neste meu blogue, fiz-lhe a homenagem que achei justa, aquando do seu aniversário natalício, que ela não viveu (27 de Novembro).


Hoje, recordo a minha viagem, do Marco para Évora, no seu último dia de vida.


O meu modo de encarar a minha fé (e convicção) na vida eterna nunca me fez ter aquela tensão de querer ver as pessoas que amo, antes da sua morte. Assim foi com o meu Pai, assim foi com a minha Mãe, assim, espero, que outros o façam comigo.


Recordo a minha viagem de "Expresso", nesse dia do ano passado, do Porto para Évora, quando, cerca das 16h 30m, o meu irmão mais velho me ligou e eu perguntei-lhe "A nossa idosa, como está ?" e ele disse, "Já não está...". E do telefonema do meu irmão Quim, a dar-me a mesma notícia e a referir que eu não tinha de me fazer forte. Uma vez mais, não verti uma lágrima...


Mudei de autocarro em Fátima e tinha 35 m de espera.


Lembrei-me , nessa altura, do Hotel, onde em 1996, eu e a Helena tivemos o prazer de ser os últimos a proporcionar uma viagem e estadia, num local de referência, aos meus Pais (eles casara, em 1952, em Fátima). Devemos ter batido o "record" do Mundo de baixa velocidade, pois ambos tiveram dificuldade para fazer (com eles) os 300 m do Santuário ao Hotel (e tivemos de pedir um Táxi...) e levámos 1h 30m.


Lembro a sua alegria, nos almoços e jantares no Hotel, para os quais, á "moda antiga", se vestiam com outras roupas e desciam , do quarto á sala de refeições e tinham um comportamento cerimonial (como era da "norma") e afável e educativo, como era próprio de Pais. Orgulho-me de os ter feito passar esses momentos.


Mas no dia do seu falecimento, nesse intervalo técnico entre "Expressos", teria tido o tempo de ir ao Santuário de Fátima e rezar por ela.


Não fui. Fui ao tal Hotel Verbo Divino, último das tais suas noites fora de Casa, pedi, no Bar, uma taça de espumante das Caves Ailança (bebida familar da minha Mãe), verti gotas no chão (á maneira latina, que expliquei ao funcionário e o emocionou e, logo, não me cobrou essa bebida) e parti para o seu funeral.


Hoje, confesso, não me tenho preocupado em saber se vai haver uma Missa por "alma" de minha Mãe. Confesso a minha falta de geito para esse culto dos nossos antepassados (não gosto de "mortos"), nem dos termos circunstanciais da "eterna saudade". Talvez porque não a tenho, nem possuo essa visão. A essência do Ser dos meus Pais repousa no seio D'aquele em que eles acreditavam e, por tal, que pode avaliar o seu desempenho neste Mundo. E os tem, decerto, na sua graça.


Da minha Mãe, recordo a Senhora que me lia histórias, que fazia "milagres" de economia doméstica, que, contudo, não deixava de gostar das coisas "sofisticadas" que a sua condição de menina de "boas famílias"a haviam habituado. E que o meu Pai se esforçava por lhe garantir.


Há meses, do espólio documental da minha Mãe, o meu irmão mais velho mostrou-me uma fotografia, de quando ela tinha 17 anos, dedicada ao seu namorado, o meu Pai, onde, no verso, lhe pedia desculpa pelos "sofrimentos" que lhe causava pelas suas dúvidas, hesitações e limitações no espaço e tempo para namorarem(pois estávamos na década de 40 do secúlo XX); casaram , só, 12 anos depois...


Gosto destes "resistentes" de sentimentos e convições de vida. E que pagaram toda a sua vida por isso. Que nem sequer se inibiram de me apoiar em coisas (políticas) que nem gostariam.

A propósito. esta semana a minha irmã, em cuja casa eu durmo em Évora, nesta minha vida profissional, deu-me uma colecção dos recortes de jornais que a minha Mãe (e, certamente, na sua vida, pelo meu Pai), juntou das minhas campanha políticas, desde 1993. Cá para dentro, emocionei-me, pois eram causa em que ela, decerto, não acreditava, mas fazia-o por mim.

Por isso, a minha Mãe, que se chamava Maria de Lourdes (com "o" e "u", como ela dizia), é, para mim, uma "Nossa Senhora de Lourdes", protectora e afectuosa, mas, também, tolerante das atitudes que não aprovava, de cujas ditas aparições ela é contemporânea.

Digo isto sem "eterna saudade", e sem esperar encontrar quem quer que seja, na "outra vida"( na qual creio, mas que não me compete avaliar se a mereço), mas porque sei que ganhou o direito á eternidade, apesar do seu "mau feitio"....








sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Sobre o descrédito do sistema de formação profissional(I)



Conheço o mundo da formação profissional desde 1988, quando, logo nos alvores, a "formação", nascendo "torta", serviu para encher os bolsos de muitas empresas, pois, nessa altura, pouco ou nada se exigia a quem se propunha organizar formação, sendo, até, muitas vezes os próprios Centros de Emprego a "mendigar" para conseguir promotores. Repito, isto em 1988.


Depois, veio a regulamentação disciplinadora: a certificação dos formadores, a acreditação das entidades formadoras, etc.


Em 1999, segundo o extinto IQF, existiam mais de 900 entidades formadoras acreditadas, só 35 vezes mais do que aquelas que, em 1988, organizavam formação.


Rapidamente a formação se constitui como "remédio" para tudo : para o insucesso escolar, para o desemprego, até para viabilizar gabinetes de contabilidade...


Sugiram alguns "cromos" que ainda hoje se mantêm e definem o sector :


- O eterno"formando" , que procura cursos como quem procura emprego, aliás, olha cada curso como um emprego, não se detendo na utilidade do mesmo, mas, antes, querendo, somente, saber o valor da bolsa de formação; conheci, recentemente, um cidadão com 48 anos que NUNCA trabalhou na vida, pois sempre tem andado em "cursos";


- A entidade formadora "oportunista", que, mesmo tendo sede num "vão de escada", organiza formação em todo o País. Fabricou várias "chapas 5", ou seja, textos de fundamentação de necessidade do curso x no local y, que, contudo, são iguais para Viseu, Porto, Freixo de Espada á Cinta, Arrentela, Amareleja, etc. E consegue o financiamento do FSE !


- As siglas que, tal como num" pronto a vestir", anunciam cursos pé-formatados pelas tutelas, onde tudo está já concebido, desde os módulos, conteúdos e onde é só aplicar, sem qualquer laivo de criatividade. Siglas como EFA, CEF, CET, etc, para quem anda neste (sub) mundo da formação, quer dizer isso mesmo : um "pronto a vestir" de qualificação e habilitação, que pouco acrescenta aos conhecidos vícios do ensino básico e secundário.


Na minha modesta opinião, a falência do sistema de formação está, antes de mais, nessa "caderneta de cromos".


De facto, o tendencialmente "eterno formando" procura curso atrás de curso e, assim, alimenta as entidades formadoras que, numa lógica facilitista, lhe fornecem os produtos "pré-formatados", pois até lhes permitem aceder ao 9º, ao 12º ano; acontece, contudo, que, tal como nas velhas cadernetas dos "cromos da bola", há os difíceis e os fáceis, ou seja, aqueles que conduzem o processo pedagógico com rigor e aqueles que o fazem de modo obscenamente fácil.


Mas a "encadernação" da caderneta explica o drama actual do mundo da formação. Como referi, as entidades formadoras cresceram em progressão geométrica, como cogumelos e nenhuma tutela consegue refrear tal fenómeno, por mais apertado que seja o crivo da acreditação de entidades.


A agravar, as entidades formadoras não se especializaram, ou seja, continuam todas a "vender" o mesmo , os tais EFA, CEF e outros. É ridículo ver as centenas de cursos das áreas de apoio social e à comunidade, ou outras, que continuam ser feitos :Geriatria, TASPC ou TICs variadas, cabeleireiros e esteticista (qualquer dia temos um "personal hair stilist" para cada português)...


Por outro lado, a escola pública, hoje, coloca no mercado, também, esses produtos de "pronto a vestir" formativo, com evidente vantagem sobre as outras entidades.


É evidente que, há muito, a oferta é superior á procura e um certo "darwinismo social" está a acontecer.


O que resta então :


Ás entidade formadoras, reflectirem, reconverterem-se, especializarem-se em áreas específicas de formação e, sobretudo, conceberem produtos próprios (acabem com o "pronto a vestir"...), baseando-os em diagnósticos sérios .

Sei que é difícil (trabalhei e estive ligado a várias), mas sempre tal defendi cheguei a tentar lançar estas dinâmicas.

Por isso, sei do que falo.

Mas voltarei ao tema.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Por causa do aniversário de um Biblioteca




Ocorreu, na passada 5ª feira, o 21º aniversário da inauguração da Biblioteca Municipal Irene Lisboa, em Arruda dos Vinhos, em 1989.
Recordo, com saudade, a epopeia que foi criar esse equipamento cultural, contra o cepticismo (e ironia...) dos poderes dominantes, Câmara incluída e dos bem pensantes locais, que só conheciam o caminho para Lisboa e, como tal, actividades culturais perto de casa eram desprezíveis.
Bom, quase sem se aperceber, a Câmara local celebrou um contrato programa com a tutela governamental (isto em 1987) e, aí, tinha que avançar...; foi preciso formar pessoal, comprar livros, mobiliário, etc.
Depois, arranjar um espaço : o menos nobre, por sinal, o sótão do edifício da Câmara, que, embora tendo 200 m2, não o deixava de ser.
Depois, eu defendia que a Biblioteca devia estar aberta à noite e aos sábados, mas o "sacro-santo" horário da função pública obrigava a horas extraordinárias. Na época eu nem era Vereador dessa Câmara, mas um simples colaborador. Logo apareceram 3 jovens que, voluntariamente, garantiam a abertura da Biblioteca, nesse horário, sob minha responsabilidade, para haver alguma legitimidade.
A afluência, no primeiro mês (Outubro de 1989) foi espantosa : num população de 12 mil habitantes , cerca de 260 leitores (sobretudo crianças e jovens) por semana. E havia os reformados, que, pela manhã, eram clientes certos dos jornais diários.
Alguns anos depois, em 1993, como Vereador, tive a tutela da Biblioteca e iniciou-se o projecto de lhe dar outras instalações, num velho palácio a recuperar.
Já não foi, do meu tempo, a inauguração dos espaço definitivo.
Mas vendo a Biblioteca de Marco de Canavezes, onde actualmente vivo, com o simples horário de função pública e perfeitamente ignorada pela população, com um espólio ridículo, vejo uma realidade deprimente (e trabalhar no sábado e fora do "nine to five" faz parte, há muito, do horário normal de carreiras como as ligadas a bibliotecas, museus e postos de turismo, limpeza urbana, sem prejuízo do respeito pelos limites do horário semanal e do direito ao descanso semanal).
Enfim, diferenças...
Enfim, o falir da política do "local porreirismo", da mediocridade e incompetência feita poder (e oposição), num executivo sem qualquer futuro.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Porque um planeamento estratégico concelhio é possível...




Não quero correr o risco de ser narcisista e chamar a atenção para contributos que dei, noutros locais onde vivi e exerci a cidadania possível. Contudo, os vários sítios onde habitei e trabalhei ensinaram-me a que tenho, constantemente, de dar testemunho sobre como coisas que, aparentemente, são "complicadas" (e já falei do fecho de escolas ou dos subsídios a Colectividades), conseguem ter resolução fácil e barata. Desde que a cidadania seja activada e activa. E isso, "é dos livros", tarefa, também, do Poder Local. Isto para combater as ternas desculpas dos "custos", do "desinteresse" das pessoas, etc.

Falo, hoje, uma vez mais, do meu mandato com Vereador, repito, da oposiçã, numa Câmara PS, eleito nas listas da CDU, em Arruda dos Vinhos, entre 1993 e 1997. Porque quero demonstrar, precisamente, que há coisas (e causas) possíveis.

Falo de uma iniciativa de 1997, já no fim do mandato, quando já sabia que, por opção pessoal e profissional, não me iria recandidatar (tinha outros apelos, mormente em Beja, onde o ser docente no Ensino Superior e ser consultor de algumas organizações me chamavam).
Essa iniciativa foi, em Arruda dos Vinhos, as "1ª Jornadas de Desenvolvimento do Concelho".
Vamos por partes. Tudo começou, numa reunião de Câmara, em Fevereiro de 1995. Como Vereador, propus que baixasse à Assembleia Municipal a constituição de um Grupo Consultivo (já tinha proposto o das Colectividades), mas, agora, para os "assuntos económicos"; a proposta era concreta : esse grupo seria constituído por um eleito municipal de cada partido, por um elemento do executivo (fui eu, como proponente) e por representantes das corporações económicas com implantação local (associação comercial, organizações do sector da agricultura), assim como do sector sócio-educativo e associativo.


A função do "Grupo Consultivo para os Assuntos Económicos" era simples : dar pareceres ou sugerir actuações, junto dos órgãos municipais, visando o desenvolvimento do Concelho.
Esse grupo reunia uma vez por mês.
Desde logo, delineou uma tarefa, que coincidia com o fim do mandato : organizar um Fórum intitulado "Jornadas de Desenvolvimento do Concelho", com o objectivo de reunir os agentes económicos locais e com eles discutir as grandes linhas económicas e sociais para o futuro, ou seja, para o quadriénio seguinte.

Quase 13 anos depois, recordo o profundo envolvimento de todos, partidos políticos, em algo que viram como estruturante para a sua própria prática futura.
Essas "Jornadas" foram ridiculamente baratas. Já lá irei.

Mas foram pedagogicamente organizadas.


Primeiro, foi feita uma caracterização económica e social do Concelho e diagnosticadas as sua fraquezas e potencialidades (hoje chamar-lhe-íamos análise SWOT). Foi feita por mim, enquanto Vereador e com um consultor que (pasme-se !) teve uma avença mensal, durante 2 meses, de 50 contos (150 euros)...; logo, não se pagou nenhuma fortuna a Universidades ou a doutos economistas...


Em segundo, definiu-se a estrutura dessas "Jornadas" : 2 dias de reflexão (sábado e domingo), com painéis/debate sobre temas centrais e sectoriais, e grupos de trabalho por actividades económicas; de preferência, animados, não por "académicos", mas por gente do terreno, ou seja, outros agente portadores de experiências ilustrativas. Os temas dos painéis e grupos de trabalho seriam, precisamente, a agricultura, a indústri, comércio e serviços, educação e formação, acção social/cultural/desportiva.

Em terceiro, criou-se uma forma de envolver o tecido económico local, na preparação.Com coisas simples. Dou um exemplo : para cada tema central/sectorial, convidou-se um organismo e, no caso da agricultura, foram a CAP e a CNA. Ora, 3 meses antes juntaram-se, à mesa, para jantar, os representantes dessas confederações, o grupo consultivo e representantes locais das organizações de agricultores do Concelho. Definiu-se o que era importante abordar e, logo, cada um ficou encarregado de mobilizar os seus. Isto aconteceu com o comércio, com a indústria, com a educação, com a solidariedade social, com a hotelaria e outros serviços.

Chegado o momento das Jornadas (recordo, eram 2 dias, num Concelho com 12 mil habitantes em 4 freguesias), as mesmas abriram com 650 inscritos e cerca de 700 presenças (convidados, etc).
Na conclusão, sairam propostas orientadoras muito concretas, compromissos entre eleitos e agentes económicos (recordo que foi aí que se consensualizou e "amenizou", por exemplo, a questão da vida de grandes superfícies).

Reconheço que, no mandato seguinte, onde o PSD ganha a Câmara e a CDU "vende a alma ao diabo", só para ter um Vereador a tempo inteiro (curiosamente perdido 4 anos após), esta pedagogia se perdeu, por força dessas mudanças no executivo municipal. Contudo, durante anos as conclusões dessas "Jornadas" foram invocadas, como compromisso público que eram, para que determinadas decisões se tomassem, ou não...

Esta iniciativa custou quanto à Câmara ?
Porque se envolveram os agentes locais, os tais jantares de preparação, acima ditos, foram oferta dos restaurantes onde ocorreram; os materiais de divulgação e os consumíveis de escritório, foram oferta das papelarias ou gráficas com presença no Concelho; o local do Fórum foi o Salão dos Bombeiros Voluntários, disponibilizado gratuitamente; o "catering" das 3 refeições dos inscritos (os tais cerca de 600) foi contratado (e pago, simbolicamente) à Misericóridia e ao Externato Local, num total de 150 contos (750 euros).
Logo, fizeram-se omeletas quase sem ovos, mas, sobretudo, com os "ovos" essenciais : a participação e o envolvimento das pessoas.

Repito: os resultados eleitorais e a atitude dos autarcas eleitos depois, olvidaram, um pouco, esta dinâmica. Mas fica o exemplo. Nessa altura, não se falava ainda da "Agenda 21" ou de outras metodologias cidadãs agora conhecidas.
Mas valeu a pena e, ainda hoje, quando visito Arruda dos Vinhos (onde residem os meus filhos), existe sempre quem se lembre das ditas "Jornadas".
Ou seja, a cidadania é (sempre) possível e dá frutos.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

CONTRIBUTOS PARA UM APOIO TRANSPARENTE AO MOVIMENTO ASSOCIATIVO


Esta reflexão é suscitada num contexto onde surge alguma discussão, sobretudo em blogs do Marco, sobre a (in)existência de um quadro normativo de apoio ao movimento associativo, no Concelho do Marco.


Antes de passar ao conteúdo, gostaria de salientar que este “alinhavar” de ideias é fruto da minha experiência, vivida entre 1993 e 1997, como Vereador, com responsabilidades no pelouro do Movimento Associativo, na Câmara Municipal de Arruda dos Vinhos, então eleito pela CDU; a título de curiosidade, era da oposição (a Câmara era PS), o que não me inibiu de reivindicar (e ter) pelouros e usar o tempo, que a lei me dava, para assumir responsabilidades e cumprir as tarefas que a eles estavam anexas ( tinha a Cultura, Desporto, Juventude, Associativismo e Fundos Comunitários); de igual modo, esta reflexão deriva da minha experiência como dirigente associativo, de 1977 a 1997, que marcou a minha formação cívica.


A distribuição casuística e arbitrária de apoios é de todo reprovável. Enquanto Autarca em Arruda dos Vinhos, logo em 1993, uma das minhas primeiras acções foi sugerir ao Executivo que, em sede de Assembleia Municipal, se constituísse um “Grupo Consultivo Inter-Colectividades”, com o objectivo lato de aconselhar a gestão camarária, na área do associativismo. Esse grupo tinha representantes da Assembleia Municipal (um por partido ), um representante dos Presidentes de Junta e dois representantes das Colectividades de cada freguesia (um da área cultural e outro da desportiva), eleitos em plenário de colectividades, promovido por cada Assembleia de Freguesia. Era presidido pelo Vereador do Pelouro.
A primeira “obra” desse Grupo Consultivo foi elaborar e apresentar, à Câmara, um “Plano de desenvolvimento desportivo e cultural 1993/1997”, previamente discutido no Encontro Anual de Colectividades de 1993. De facto, este “encontro anual” passou, nos anos seguintes, a ser, institucionalmente, um “fórum” de discussão, uma vez por ano, dos problemas do movimento associativo. Em vez de se fazer mais uma festa, com “comes e bebes”, folclore, conferências eruditas, celebrava-se, anualmente, a força do associativismo, precisamente, organizando um dia de reflexão (e de decisões) dos dirigentes associativos e autarcas.
Esse “Plano” fixava as grandes opões estratégicas. Em linguagem simples, defendia (e justificava) porque seria prioritário apostar e incentivar (exemplificando), na educação física em todos os grupos etários,n os desportos com tradição local (ténis de mesa),n as camadas jovens em todas as modalidades, na animação na biblioteca, no revitalizar da etnografia, enfim, em ser um “fruidor” e não um consumidor.


Depois, vinha a parte difícil: os subsídios. O tal Grupo Consultivo criou e propôs à Câmara um Quadro Normativo muito simples, mas eficaz : antes de mais, cada Colectividade, tinha de apresentar, na sua Assembleia de Freguesia, para parecer não vinculativo da mesma, o seu Plano Anual de Actividades, para o ano seguinte. Emitido esse parecer, o Plano de Actividades subia à Câmara. Deve ser dito que foi concebido, no Grupo Consultivo, um Formulário próprio, que ajudava a “escrever” o Plano, algo exaustivo, onde cada Colectividade indicava as actividades correntes e as iniciativas que pretendia organizar, o número previsível de atletas, praticante ou utentes que esperava, por exemplo.
Chegado à Câmara, o “Plano” de cada Colectividade era submetido a uma” grelha” quantitativa que atribuía “pontos” a todos as actividades e iniciativas, de acordo com critérios quantificáveis como o número de praticantes, utentes ou pessoas envolvidas, mas com majorações sempre que essas actividades eram relevantes para os objectivos do tal “macro” Plano de Desenvolvimento Desportivo e Cultural para 1993/1997 (no fundo, para o mandato). O curioso é que essa grelha era pré-estabelecida e pública e o resultado da análise da sua aplicação “baixava” ao Grupo Consultivo, que podia sugerir alterações e, finalmente, dava parecer.


Terminada esta fase, a atribuição do subsídio anual, feita em Janeiro, a cada Colectividade era simples de fazer : somava-se a pontuação obtida por todas as Colectividades, a partir do Formulário de cada uma e obtinha-se um total de pontos. Esse total de pontos era dividido pelo valor constante no Orçamento da Câmara, nesse ano para o apoio corrente financeiro ao associativismo e, claro está, a cada ponto passou a corresponder X escudos. Ficava fácil cada Colectividade (e a população em geral) saber porque é que um recebia x e o outro y.
Claro está, no fim do ano faziam-se os” acertos” : vamos supor que não se fez uma determinada actividade ou que o número de atletas foi superior ou inferir ao previsto no plano anual de certas Colectividades. Automaticamente, havia um débito ou crédito de pontos, a ter em conta na contabilidade do ano seguinte.
Isto era o subsídio anual corrente. Claro, havia ainda a possibilidade da figura de contrato programa, para investimentos mais vultuosos, mormente equipamentos, obedecendo a outro Quadro Normativo.


Mas realçaria a ideia base com que, há 17 anos, se teve o “atrevimento” de tentar ter critérios objectivos, quantificáveis e explicáveis, na difícil “arte” de subsidiar o associativismo : o envolver, em todas as fases da decisão, dos dirigentes associativo e dos autarcas, mas com regras objectivas.
Deixo esta experiência, simples mas cidadã e “republicana”, à apreciação.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

O QUE FAZER PARA QUE NÃO SE FECHEM AS ESCOLAS (2)




Em 1992, aquando da minha permanência nos Açores, ao serviço da instituição que, lá, corresponde à Acção Social da Segurança Social, fui coordenador de um projecto que tinha, como parceiro, uma entidade com sede em Caen, em França (Normandia).
Numa deslocação a essa zona, tive oportunidade de conhecer a experiência de uma aldeia "ressuscitada", cujo nome não recordo, mas que ficava perto de St. Marie de L'Eglise (esta, sim, eternizada pelo episódio da chegada dos paraquedistas americanos, no "Dia D").
A história conta-se rapidamente.
A aldeia estava a desertificar-se. Fechou a Escola, fechou a Farmácia, fechou a padaria, o café/restaurante, fechou o posto dos correios, o balcão bancário, tudo por falta de gente que justificasse a existência desses serviços.
O presidente da instituição que, aqui, seria semelhante à Junta de Freguesia, estava preocupado, mas passou à acção, correndo, claro está, riscos.
Reuniu com a população, apresentou o seu plano, que, de imediato, passava pela constituição de uma espécie de cooperativa, constituída pelas forças vivas e seus habitantes que, de imediato, adquiriu ou arrendou (não me recordo) a padaria, o café/restaurante e a farmácia (que, recordo, haviam fechado). Depois, colocou anúncios na imprensa nacional e regional, onde se cedia a exploração desses três equipamentos, gratuitamente (sem custos de arrendamento), durante 5 anos, a quem estivesse habilitado para tal, desde que quem com eles ficasse se mudasse, com a família, para a aldeia e tivesse, no mínimo, 2 filhos em idade escolar .
Vieram 3 famílias, 2 do Sul de França e outra da região de Paris. No conjunto, 9 crianças...
Ora, com 9 crianças mais as que ainda estavam na aldeia, a escola podia reabrir; mas aqui a cooperativa local também se movimentou : disponibilizava casa gratuita ao docente que lá fosse colocado, desde deslocasse a família e, no mínimo, tivesse um agregado de 5 pessoas.
Ora, com quase 20 novos habitantes, 4 novas famílias, mais movimento económico, o balcão bancário foi reactivado...

Mais uma vez, funcionou a população organizada, num movimento cidadão para, juntos, resolverem o problema, animados pelo seu Autarca e assumindo responsabilidades cidadãs.

É só mais um exemplo, suscitado pelas 701 escolas cujo fecho se anunciou, tentando trazer para a discussão um conceito de contestação construtiva, onde se constroem ideias colectivas, de raiz local, para resolver as questões.
Dei, muitas vezes, quando fui docente na licenciatura em Serviço Social, este exemplo aos meus alunos, para ilustrar a força da cidadania.

domingo, 25 de julho de 2010

O que fazer para que não se fechem Escolas...(1)




Está na ordem do dia o fecho de 501 escolas do 1º ciclo.
Existem Pais preocupados e revoltados, Autarcas indignados, um Ministério que se desfaz em justificações.
Como homem de esquerda, vejo na contestação uma forma positiva de participação cidadã.
Contudo, existem outras formas, complementares, para, talvez, resolver,localmente, essa questão, só que envolve um outro tipo de participação :organizar-se para, não só contestar, mas resolver o problema.

Vou partilhar convosco uma experiência, recente e em curso, retratada por uma Educadora de Infância, num trabalho de Mestrado.
A Freguesia da Glória, Concelho de Estremoz, no Alentejo Central, é dispersa e com poucos habitantes, logo, condenada a ter uma Escola (jardim de infância, ATL e primeiro ciclo) fechada.
Contudo, os habitantes mobilizaram-se, não só para contestar, mas para serem eles a responder ao problema, localmente.
A Associação de Pais chamou a si, há 2 anos, a recuperação do edifício da Escola, reabilitando-o e dotando-o, inclusive, com acessos e equipamentos para crianças com necessidades educativas especiais , a sua manutenção, a aquisição de equipamentos pedagógico, a montagem de uma cozinha e refeitório, etc.
Envolvida, profundamente, a Junta de Freguesia foi e é entusiasta colaborante, deste movimento da sociedade civil.
Mas como conseguiram dinheiro para tal ? Recorrendo a donativos dos habitantes, mormente dos naturais da Glória que ainda integram a "Diáspora" Alentejana na Grande Lisboa, ou dos muitos (e famosos) habitantes de fim-de-semana dessa aldeia; depois, claro, fizeram, talvez, as clássicas iniciativas festivas de angariação de fundos; ressalta, sobretudo, o contributo, em trabalho, dos habitantes e de diversos amigos, de fora do Concelho, que participaram, com materiais e "suor", nas obras necessárias.
A Escola, reabilitada, teve, pois, um enorme contributo da sociedade civil local, da sua rede de relações, e pouco dos poderes.

Resultado : a Escola não fechou, nem fechará. Mais, recebe crianças, não só da Freguesia, mas de todas as 13 Freguesia do Concelho, dada a excelência dos seu equipamentos, logo, reúne o número de alunos para não encerrar. Mais : habitantes reformados dão uma "mãozinha" na cozinha, na limpeza, para aliviar os custos, aos poderes, com pessoal, para que tal não seja um futuro motivo para encerramento.

Alguns dirão : mas competia ao Estado fazer tudo isso ! E não fez!
Concordo com o "não fez". Mas julgo que a mobilização das pessoas, para resolverem os seus problemas, dentro de um quadro de movimento cívico e sem violar legalidade, é uma competência republicana da qual ninguém se deve demitir.
Por isso, TAMBÉM COMPETE AS CIDADÃOS, PREVENDO OU SABENDO QUE O ESTADO FALHA, CHAMAR A SI O GOVERNO DO SEU TERRITÓRIO, NESTE CASO, DO PROBLEMA DA ESCOLA. Assim, protocolizar, depois, acordos com, o Estado, fica mais fácil.
Desconheço a orientação partidária da Junta de Freguesia da Glória. Ou da Associação de Pais.
Fica, por isso, este exemplo de cidadania participativa, não só pela contestação, mas pela mobilização para RESOLVER o problema.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

O que falhou com Carlos Queiroz ?




Confesso-me admirador do Professor Carlos Queiroz, desde que trouxe para Portugal os únicos títulos de Campeão Mundial que podemos exibir : no Quatar, em 1997 e em Portugal em 1991. Em juniores, claro.

Depois, admirei a sua frontalidade, quando, chamado a treinar a sua geração "de ouro", então sénior, já em 1993, na fase de apuramento para o Mundial de 1994, perante a eliminação, disse que era necessário varrer a "porcaria" que havia dentro da Federação.

Hoje sabemos os nomes e os contornos, actuais, da "porcaria" : Apito Dourado, etc.

Carlos Queiroz treinou, depois, um clube, o Sporting, na aventura presidencial de Santana Lopes; perdeu, saiu, andou por África e pelas Arábias; também treinou o "dream team" do Real Madrid, onde perdeu a aposta.

Julgo que Carlos Queiroz não precisa de ganhar dinheiro no futebol; contudo, não volta as costas a um desafio, a uma aposta.

Um outro Professor (José Mourinho, treinador vindo da Universidade), nos contratos milionários que tem feito, tem uma premissa : nenhum jogador pode ter salário mais alto que o seu.

Ao optar por ser treinador da selecção nacional, Queiroz sabia que o salário mensal de qualquer um dos seus pupilos era maior que o seu.

Atletas com boa formação humana não desrespeitam um "Mister" por causa disso.

Ontem, Queiroz foi desrespeitado por uma vedeta de pés de barro, chamada Cristiano Ronaldo, que atribuiu ao treinador o dever de explicar a derrota. À boa maneira madeirense (a "escola" de Alberto João Jardim), "bate e foge", ou seja, horas depois diz que não disse o que disse; havia-o sido, semanas antes, por um "mercenário", chamado Deco, que, ontem, voltou a repetir doutas acusações ao "Mister".

Ou seja, Queiroz, tal como no Real Madrid, não soube lidar com "vedetas" que julgam que o salário permite faltas de respeito.

Que eu saiba, por exemplo, Cristiano Ronaldo não trouxe, para Portugal, ainda nenhum titulo ligado ao futebol como jogo "de equipa" (ser o "Melhor do Mundo" é individual...). Devia, por isso, respeitar quem foi, como Queiroz, bi-campeão mundial de juniores, numa geração que deu ao Mundo verdadeiras estrelas, como Rui Costa, Figo, Fernando Couto, João Vieira Pinto, Vìtor Baía, entre outros, que corre riscos de abraçar projectos difíceis e não dorme "á sombra" de vedetismos terceiro-mundistas, como, afinal, Ronaldo tem feito enquanto jogador da Selecção, onde poucas mais valias tem trazido.

Na hora da derrota, respeitemos quem já foi campeão, por Portugal, 2 vezes: o Professor Carlos Queiroz.

domingo, 23 de maio de 2010

Acerca da visita de um Papa ( 3)

Tardei a escrever este último texto.
Tirei várias conclusões pessoais sobre a personalidade do Papa Ratzinger, de quem, antes, escrevi, não me merecer simpatia.

Mudei a opinião.

Não porque me movam sorrisos, tipo João Paulo II, sempre invocados nas perguntas despropositadas, de jornalistas, comparativas, a peregrinos movidos pela habitual "fé" das promessas, vulgo crendice...; de facto, somos um País de compulsavimente católicos, porque baptizados, e, onde, como disse D. Jorge Ortiga , líder da Igreja Católica em Portugal (que não é D. José Policarpo, que se limita a ser Bispo de Lisboa e tem o título honorífico de Cardeal), proliferam "católicos de oportunidade", que o são por causa de terem um lindo casamento, uma "comunhão" festiva para os filhos, etc.
Mudei de opinião, pelo que ouvi a Ratzinger, mormente nos momento em que se encontrou com personalidades da vida cultural e cívica e com os agentes da Acção Social da Igreja.
Como preâmbulo, ainda no voo de Roma a Lisboa, Ratzinger havia referido que, em dados momentos, os inimigos da Igreja estão dentro dela e não fora. Logo, aí, me surpreendi, porque entendi a mensagem para além dos delitos sexuais, agora identificados.

Depois, no encontro com (discutíveis) representantes da vida cultural, referiu, sublinhando a desconcertante afirmação "republicana" feita perante um formal Cavaco Silva, em acto anterior, as virtudes da separação Igreja/Estado e a preocupação com a Ética e Estética , associadas, que deve presidir ao mundo da cultura. Verdadeiramente, para mim, uma surpresa. É um texto onde me revejo e que me merece várias leituras de aprofundamento.

Depois, o discurso, em Fátima perante (também discutíveis) representantes da Acção Social da Igreja.
Ouvido, pelas televisões, o texto e, estupefacto, ouvidas, também, as interpretações que, dele, fizeram, os representantes das grandes corporações católicas, pensei ter lido ou ouvido algo, que não o mesmo que eles.
Ratzinger, mesmo ao abordar a FUNDAMENTALISTAMENTE APLAUDIDA referência ao "aborto", fá-lo invocando a necessidade de se combater as condições culturais e civilizacionais que levam a essa prática e, NUNCA, condenando quem se submete a ela . Os aplausos das "tias" do suposto Jet 7, 8 ou 9, hipócrita e "salazarento", ignoraram esse pressuposto, desejosos de ver condenados aqueles que fazem o que elas sempre fizeram ou têm pena de não terem feito...; mas Ratzinger falou do "antes" : combater os motivos que levam a tal. E isso "elas" não ouviram. Porque nunca o entenderão, pois, como dizia o profeta Elias, a sua fé limita-se a preceitos humanos...
Tal como o Presidente da CNIS e o Presidente da Cáritas Portuguesa, parecem não ter ouvido a clara referência á necessidade das instituições de acção social da Igreja se irem autonomizando do Estado ou, no mínimo, encararem os seu trabalho não como complementar ou em substituição dele, mas como uma maneira cristã de responder, logo, diferente.
É a minha visão pessoal sobre a (primeira) descoberta de um Ratzinger, que tenta ver a Fé à luz da Razão.
Nestes dias de alguma "desocupação" profissional, li muitos documentos daquele a quem chamei, sempre, o "Pastor Alemão", com carga muito depreciativa.
Hoje, á luz do que ouvi, embora nas televisões e li, acredito que foi da sua mão, mesmo, que saiu a Encíclica "Deus é Amor", há 4 anos (julgo).

O nome "Bento", porque sou um admirador do S. Bento, um dos fundadores da filosofia cristã que informou a Europa como unidade sociológica, nos alvores medievais, sempre evitei atribuí-lo a Ratzinger. Porque não lhe reconhecia essa "dignidade".
Repito : mesmo discordando de alguns pressupostos (casamento entre pessoas do mesmo sexo, por exemplo), reconheço que não conhecia o pensador Ratzinger o suficiente. Hoje, talvez me reveja mais na sua "intelectualidade", que mostrou saber tornar objectiva e prática.
Não sei se todos os que o ouviram perceberam o alcance.

Como já escrevi noutro "post", por razões "disciplinares" (sou "recasado"), não me permito a hipocrisia de me dizer católico ; não o posso ser e "ponto final".
Mas, uma coisa é certa : ao me referir a Ratzinger, deixarei de lhe chamar "Pastor Alemão", para o denominar como Bento XVI, porque, no meu íntimo, o acolho como tal, digno do nome do outro Bento, mesmo criticamente.

domingo, 9 de maio de 2010

Acerca da visita de um Papa (2)




O primeiro Papa que foi meu contemporâneo foi João XXIII, no início dos anos 60 do século XX. Confesso, que da "superioridade" dos meus 4 anos de idade, "papa" era "comida", logo, quando via uma imagem de João XXIII, chamava-lhe o "senhor comidas".

Mais tarde, percebi que foi eleito, dada a sua avançada idade, como um Papa "de transição", esperando-se que tivesse um papado curto e pacífico, enquanto as várias tendências católicas se organizavam para ter um Papa " á altura".

João XXIII desiludiu-os, nessa perspectiva de uma passagem rápida pela cátedra de S. Pedro. Não só governou mais anos que o previsto, como teve a coragem de iniciar o processo do Concílio Vaticano II, verdadeira refundação, também, da filosofia e doutrina social católica, concretizada pelo seu sucessor Paulo VI.


O Papa João (o meu "senhor comidas") tinha sido Cardeal e Bispo de Veneza. Dessa cidade sempre vieram Papas inovadores, como foi, anos depois, João Paulo I, apesar do seu curto papado.


Foram Cardeais/Bispos muito próximos dos problemas pessoais e sociais reais , que apoiavam aqueles que os viviam, para que eles mesmos os resolvessem, mas sem perder, nunca, a luz da Fé dos cristãos. É que existia uma maneira cristã de, por exemplo, ver as questões laborais e sindicais, a vida política, etc.

Eis um exemplo:


Há anos (talvez 5), vi um excelente filme (ou série), sobre João XXIII, onde o Papa era interpretado por Dany de Vito, julgo que no (agora) indisponível canal Hallmark, da então CaboVisão.

Retenho uma cena, que já tinha lido numa sua biografia.

João XXIII vai visitar uma prisão em Roma. Tudo é preparado ao milímetro : a segurança, sobretudo o respeito dos presos por tão ilustre visita. Contudo, quando o Papa entra no corredor onde, da varanda de acesso às celas, os presidiários vão assistir à cerimónia, há um preso que não tira o chapéu, em respeito ao visitante e logo é admoestado, com uma bastonada, pelo guarda prisional.

O Papa João intervém. Chama o preso e diz-lhe, de facto, aquilo que pode mudar a vida de alguém : convida o prisioneiro a falar e ele diz-lhe que estava ali por homicídio e passaria ali o resto da vida, pelo que nada lhe interessava, já tinha perdido tudo; aliás, o homicídio teria sido involuntário e, porque não tinha dinheiro para um bom advogado, fora condenado a pesada pena. Numa linguagem simples, o Papa diz-lhe que há 2000 anos outro "bandido", aos olhos da sociedade (Jesus) fora injustamente condenado, crucificado, perdera tudo, mas ressuscitara, mas, antes, perdoara quem o condenara; o Papa João diz, ainda, que também se sente "prisioneiro", no Vaticano, pois não pode ir á rua sozinho, beber uma "grappa", ou ao teatro. Diz-lhe que o espírito é livre e é isso que importa. Mas, sobretudo, que o arrependimento só funciona se, acto contínuo, perdoarmos a quem nos prejudicou.

Semanas depois, o Papa João solicitou, ao Tribunal, um perdão de pena para aquele prisioneiro. Contudo, o preso não o aceitou : depois da visita do Papa, tinha descoberto que podia ser mais útil na prisão, pois, como electricista de profissão, tinha, de sua iniciativa, começado a ensinar o ofício a outros reclusos. E mais : disse ao Papa que, se o Pontífice se sentia "preso" no Vaticano, devido a ter de servir a Igreja, ele era solidário com ele e assumia o seu papel de "professor de electricidade" , como forma de "servir", de reabilitar os outro presidiários. Tinham, pois, ambos, uma "missão" de redenção dos outros, muito semelhante...

É para "missões" assim que um Papa deve convocar os seus seguidores : para mudar o Mundo, mas através de pequenos actos de amor bem pessoalizados e localizados, sendo solidários, através da transmissão das nossas capacidades a outros, promovendo, sobretudo, a inclusão de todos.

Como fez o meu "senhor comidas", naquela prisão.

O Papa João XIII, curiosamente, não está sepultado na cripta onde estão muitos dos outros Papas, como Paulo VI ou João Paulo II; estive em Roma, na Basílica de S. Pedro, em Janeiro de 2009, nesse local e procurei o seu túmulo. Não o encontrei. Soube, depois, que está sepultado numa capela lateral da Basílica. Não sei se por opção sua, mas se o foi, mesmo na morte foi diferente : nunca viveu como "Príncipe da Igereja" e como tal não quiz ser considerado.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Acerca da visita de um Papa ( 1)



Na passada 3ª feira, por razões que nada têm a ver com o título deste "post", tive uma conversa , profissional, com um sacerdote, ligado a uma ordem religiosa como raízes profundas, até, no surgimento da Europa de hoje : os Beneditinos.
"En passant", falámos dos últimos Papas que conheci (João XXIII, Paulo VI, João Paulo I, João Paulo II e, agora, o Papa Ratzinger).
Lá fiz as minhas reflexões e opinei, e o meu interlocutor disse-me : "Dr. Abel, devia escrever sobre essas coisas e partilhá-las com a sociedade !".
Eu respondi-lhe : "Sabe, já o comecei a fazer há 18 anos...".
É verdade...
Redescobri, por exemplo, num trabalho recente de organização de "papéis", resultantes de coisas que, há mais de 20 anos, escrevi em jornais, rascunhei para crónicas em rádios locais ou artigos para revistas da minha área académica, um texto, datado do tempo da segundo visita de João Paulo II, em Maio de 1991, a Portugal. Era um rascunho de uma crónica lida, ao microfone da Rádio Lezíria, de Vila franca de Xira, que cobria a área onde eu morava (Arruda dos Vinhos) e onde mantive, durante 2 anos, uma crónica semanal.
Transcrevo esse rascunho pois, uma vez mais, hoje diria o mesmo ...

"João Paulo II vem, de novo, a Portugal.
Faço tenção de o ir ver, ao Estádio do Restelo.
Mas prefiro imaginar uma situação, bem mais agradável.
Imagino que me cruzava com João Paulo II, num qualquer corredor e que podia "meter conversa" com ele.
Dir-lhe-ia, antes de mais, "Bom dia, Santidade, bem vindo a esta nossa parte do seu Mundo".
Depois, perguntar-lhe-ia, sem medo :
Sabes, Santidade, queria colocar-te alguma perguntas que, não pondo em causa a minha fé, me ajudariam a perceber até que ponto és ou não uma mudança nesta Igreja Católica, ou um simples show-man.
Sabes, Santidade, o teu antecessor do sécúlo I, S. Pedro, foi tentado a sair de Roma, pois os cristão, vítimas do louco Imperador Nero, era martirizados às centenas.
Ora, parece que voltou para trás, para morrer ao lado dos seus, pois, numa visão, viu Jesus a entrar em Roma, precisamente, para morrer ao lado dos cristãos, dado que Pedro fugia (cena eternizada no filme "Quo Vadis?").
Pergunto-te, Santidade, estarias disposto, tu, a dar a vida pela tua fé, ao lado daqueles de lideras, numa qualquer moderna "Roma", perante um hodierno Nero, numa versão moderna do Coliseu ou do monte Vaticano (onde os crucificavam) ?
É que um dos teus antecessores, João XXIII, disse, sempre, que a opção da Igreja é pelos pobres, pelos desprovidos de direitos, pelos que começam a duvidar dos valores do amor recíproco e esses não podem ser abandonados. É por esse que somos chamados a viver e morrer. Em que fase estás, Santidade, desse desafio ?
Dir-lhe-ia, ainda :
Sabes, Santidade, tenho encontrado, fora da Igreja Católica, gente que, de verdade, tem dado a vida por aquilo em que acredita, tem perdido carreiras brilhantes, tem, no fundo, deixado tudo, para seguir utopias igualitárias que, na sua prática, quase tocam os preceitos sociais cristãos. Só que não seguem a tua Igreja. Mas, Santidade, não havendo já as fogueiras da Inquisição, tu pareces não os ouvir, nem os valorizar, até parece existir medo em relação a eles, por vezes até desprezas os seus contributos, pois não são "católicos".
Pergunto-te, Santidade : Quem te rodeia deixou tudo para segui-Lo ? Aqueles de quem te circundam não morerriam de medo ou de falta de fé perante um leão do Coliseu de Roma, no século I ? Seriam leais e resistiriam à tortura para não revelarem onde se reuniam os outros crentes, como então acontecia ? Partilhariam aquelas riquezas que vocês dizem ser de toda a Humanidade, mas da qual usufruem quase em exclusivo ?
É que nada disso se parece compaginar com os ricos corredores do Vaticano, como os palacetes das Nunciaturas, com as Casas Episcopais, com a convivência entre o poder político e o poder religioso , hoje já universal. Sei que passou muito tempo ...
Gostaria de te ouvir dizer, Santidade, quando te vir no Estádio do Restelo, que como Seu representante, queres que Deus volte, através dos seus crentes, ao Mundo e que fecunde, de novo, esta Terra, para que quem O representa e segue não O confunda com privilégios, poder ou dinheiro, deixem de O trair através do modo como vivem, enfim, gostaria que gritasses que DEUS É UMA REVOLUÇÃO, porque escolhe-LO significa aderir a um projecto de sociedade fraterna, livre e igual, de forma radical."
Arruda dos Vinhos, Maio de 1991

Afastei-me, progressivamente, da Igreja Católica e, hoje, porque não aceito a dicotomia hipócrita "praticante" e não praticante" (ou se é e se aceita o que é ser, ou não se é) não me posso considerar católico, até porque como "recasado", nem me posso aproximar da mesa eucarística. Essa regra existe, logo, exclui-me e tenho de o aceitar.
Contudo, porque não renego a fé (e, sobretudo, a sua prática socialquotidiana) que aprendi, apesar de tudo, na Igreja onde cresci, mesmo não tendo a menor simpatia por Ratzinger, conto estar na Missa do Porto, na 6ª feira dia 14, que mais não seja para ver o "povo em movimento"...

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Um apelo á cidadania, ontem, 28 de Abril, na Alameda do Marco




Ontem, na Alameda Miranda Rocha, no Marco de Canavezes, durante a iniciativa "Marco de Letras", ouvi (e vivi) o concerto dos "Rising Sun".

Esse duo (dois sublimes jovens, na presença, voz e nos instrumentos musicais manuseados), do Marco, fruto de uma instituição privada pioneira na ocupação de tempos livres (a "Preceptor"), proporcionou-me uma "lavagem de alma".

Como dizem num brilhante panfleto de apresentação, são um "projecto ovo" (não é erro ortográfico em relação a "novo") de um projecto maior, visando a iniciação de jovens no mundo da música. Dizem, com clareza, que não visam a "anarquia do estudo", mas "um entretém paralelo que, quando bem canalizado, se revela proveitoso para o ofício escolar".

Mas detenho-me no Concerto (foi isso que aconteceu) do Edu e da Marta.

Já vi e ouvi muitos "covers" de clássicos dos anos 60 e 70, que, até, são do meu tempo de juventude.

O que vi e ouvi, ontem, foi uma apresentação e interpretação sóbria e profunda (aliás, com uma excelente componente visual produzida para o efeito), feita por dois jovens que, demonstraram, sabiam o significado e o conteúdo daquilo que cantavam e tocavam, não na perspectiva "saudosista" , mas indiciando que percebiam a actualidade da mensagem associada.

Temas difíceis de interpretar, como "Let it be", foram recriados sem que houve uma falha de timbre de voz ou nota musical.

Falei de uma "lavagem de alma", que tenho de agradecer ao Edu e à Marta.

A "lavagem" foi, no fundo, sentir que os temas da Liberdade, da "revolta contra o estabelecido", da "harmonia universal", embora de outras formas, continuam vivos e conseguem sensibilizar. E que a educação cívica é isso mesmo.

E, afinal, os "Rising Sun" fizeram, ontem, um acto de educação cívica. Que tanta falta nos faz, a nós e, sobretudo, àqueles que, todos os dias, se confrontam com "arrivistas políticos" que disso pouco percebem (até o abominam), e que, para cúmulo, nem frequentam estas actividades no Marco (e, talvez, em lado algum, pois vivem cheios de si mesmos...).

Como disse a representante da Câmara, na conclusão do Concerto, foi um momento de qualidade, que tem um rosto.

O resto é a "Preceptor", que há anos apostou neste modelo de extensão educativa. Mas, é verdade, as empresas são feitas por pessoas. Neste caso, por pessoas que, há muito, acreditaram que valia a pena investir toda a sua vida na Região, todos os dias e não só ao fim de semana ou em períodos eleitorais.

Pelo momento de regeneração espiritual e cívica que me proporcionaram, o meu OBRIGADO ao Edu e à Marta.

Façam um bom marketing e, em locais apropriados, continuem a semear a esperança nos valores que essas canções transmitem (mesmo nos vossos temas originais!).

terça-feira, 6 de abril de 2010

Leram-me histórias para adormecer....




Não, o título não é uma ironia, nem remete para nenhum dos muitos textos, de algum dos "serviçais" do "sindicato de voto" que, em nome de um certo PS e de Artur Melo, Jaime Teixeira e uma das tais famílias que um xenófobo denominava como tendo 4 gerações (nascidos? residentes? activos?de "esquerda"?) no Marco e outros criaram, onde o dito Jaime, como "amanuense" de serviço, no seu decrépito (quem o viu e quem o vê...) blog Marco Hoje , se dedica a escrever, sobre mim, quase sempre sem me nomear, criticas e juízos, como quem se vê ao espelho e reporta uma triste vida, (essa sim), só "redimida" numa colagem a Artur Melo, que tão mal servem. Enfim, estas sim, a de Jaime Teixeira, tristes vidas, que só nesta sua tardia idade reconhecem convicções de socialista do PS. De facto, tristes vidas, daqueles que não podem mudar, porque nunca estiveram em lado nenhum, nem matriz de vida parecem ter (aliás, o dito Jaime odeia o termo "matriz", como disse e escreveu, mormente quando se chama "ideológica", porque só vê interesses e segundas intenções em tudo; enfim, o seu espelho).

Mas deixemos estes resquícios de Estado Novo a quem os alimenta, pois a clarificação está por dias. Vamos a coisas mais profundas, que essas "tristes vidas" não abarcam. A não ser quando lhes servem os interesse operacionais.

Vou ao que interessa, ao que, de facto, marca a vida e significa afectos duradouros, partilhas de vida, cumplicidades, educação para a Vida, que, essas sim, mudam a "vida" de cada um e, logo, o Mundo.

Tenho uma sobrinha, com 8 anos, chamada Sara, que, desde que nasceu, passa o Natal, a Páscoa, algum tempo de férias, na minha Casa. Que, é verdade, já foi em Beja, em Estremoz e agora é (e para desgosto de alguns, será) no Marco . Fico feliz por lhe proporcionar essa riqueza de vivenciais territorializadas, que ela aprecia, sempre, com intensidade.

Ontem, a Sara resolveu que tinha de me ler histórias para eu adormecer.

Leu-me 3 histórias ("O Coelho Branco", "Os 3 porquinhos", "Harry e o balde dos dinossauros").

E eu adormeci.

Confesso que há 45 anos que ninguém me fazia tal.
Significa que o afecto se manifesta, na forma em que mais gostámos dele. Há 45 anos, quando a TV não existia para todos (como os meus Pais), a minha Mãe lia-me histórias. Há uns 23 anos, já havia TV, a minha filha pedia-me para eu lhe ler histórias e as "explicar", ou seja, dizer o que é que aquilo tinha a ver com o nosso comportamento.

Ontem, a Sara, minha sobrinha, leu-me histórias "à antiga" : com o simples intuito de me tranquilizar, porque , do "alto" da sabedoria dos seus 8 anos, julga que é disso que eu preciso, talvez por causa da vida "rica" (ou será "triste", como diz o tal Jaime ?) que tenho de viver.


Por isso devia haver uma "Sara" na vida de cada um.

Para, pelo menos, nos repor no essencial das relações entre os seres humanos: o afecto que reconforta e alimenta e não é estéril, porque leva uma mensagem de vida.


Mas esse é um privilégio que eu tenho.

sábado, 3 de abril de 2010

Sobre o sentido social da morte de Jesus Cristo


Estes texto foi publicado, por mim, no Jornal "Açoriano Oriental", de Ponta Delgada, na longínqua Páscoa de de 1992; foi republicado no Jornal "Clarim", de Arruda dos Vinhos, na Páscoa de 2004.
Hoje, recupero-o, 18 anos depois.
Porque hoje voltaria a escrever o mesmo.

" Não é novidade, para ninguém, a importância que o calendário judaico-cristão atribuiu á Páscoa. Embora por razões e factos diversos, essas duas grandes famílias religiosas fazem,desse tempo, ponto alto do seu ano.
Gostaria de me reter sobre o facto que, para todos os cristãos, marca a Páscoa : a morte/ressurreição de Jesus.
Quero fazê-lo como simples "leigo", ou seja, enquanto pessoa que acredita que, para além das leituras mais ou menos "místicas" e "sagradas", há um significado social, uma interpretação "civil" desse acontecimento, que é património de toda a Humanidade, do qual nenhuma Igreja institucionalizada é proprietária exclusiva.

Há dias, ouvia num templo católico, um sacerdote afirmar que Jesus havia morrido por nós, para nos "resgatar". Tudo bem. Mas, para nos resgatar de quê ? Da morte, dirão alguns, pois deu-nos a vida eterna; do pecado, dirão outros, pois assumiu, sobre si, as culpas de todos nós. Perfeito ! Na catequese dominical aprende-se muito....
Mas, para alguém que não tenha fé, que não acredite na vida eterna, que ache o pecado uma figura de retórica, que ensinamentos pode tira da morte de Jesus ? É aí que me quero deter, dando despretensioso contributo para uma interpretação "civil", social, da morte de Cristo.

A morte de Jesus é a aniquilação do Eu.
Explico-me :
Jesus disse um dia "Eu sou a Vida"; quem tal afirma, não pode ter personalidade frágil, nem desejar a morte, nem escolhê-la, como um vulgar suicida. Nada nos Evangelhos permite pensar tal.
Jesus apresenta-se como um homem determinado, que afronta o "establishment" da época. Por exemplo, uma vez a multidão pretendia precipitá-lo de um monte, , mas, segundo os Evangelhos, Jesus, muito naturalmente, "passou por entre eles e seguiu, sem ser molestado". Isto só pode ser feito por alguém de forte carácter.
Assim, como primeira conclusão, resulta que Jesus era um Homem de forte personalidade.

Passemos a um segundo aspecto. Um dia, Jesus afirmou: "Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me".
"Negue-se a si mesmo". Que pode significar tal expressão ? O mesmo que muitos outros convites que fez : para "deixar tudo" e segui-lo, para "não olhar para trás, após ter deitado as mãos ao arado".
Mas avancemos mais.
S. Paulo fala, anos depois, do "Homem Novo", fruto da "morte" do Homem sem fé. O próprio Jesus já havia falado de "nascer de novo".
Fica claro que, nesta acepção, a mudança, para a nova vida que Jesus trazia, se fazia pela negação da anterior, por um corte com a vida que, até aí, se fazia; ou seja, é condição, para a nova vida, que se deixe a antiga.
Eis a segunda conclusão : teríamos de nos esvaziar de nós mesmos, para que, dentro de nós, algo nascesse de novo, diferente.

Juntemos, agora, essas duas conclusões. Um homem, de forte personalidade, ensina os outros a esvaziarem-se de si mesmos. Paradoxalmente, parece que quer ser seguido por gente despersonalizada, que, voluntariamente, perdeu o carácter, para serem do seu "rebanho".
Nada mais errado. A chave da interpretação do paradoxo é a morte de Jesus.

Expliquemos: Jesus morre porque quer.

No seu processo jurídico, teve várias "deixas" para evitar a condenação. Não o fez. Para cúmulo, já crucificado, acusa Deus Pai de o ter abandonado ("Meu Deus, porque me abandonastes ?").

Eis a chave : Jesus, o tal homem de forte personalidade, considerando-se o Filho de Deus, experimenta a suprema negação de si mesmo, de todas as suas certezas, deixa "cair" todos os seus atributos por terra : já não é o líder de massas, o suposto "rei" dos Judeus, sequer o Messias, muito menos o filho querido de Deus. Experimenta a suprema aniquilação do seu "eu", deixa por terra aquilo que ele mesmo sabia ser.

Que podemos concluir : o Cristianismo é o elogio da desporsanilação ? Não, não nos precipitemos.

Jesus aniquilou o seu "eu", experimenta a "morte"; de tudo, mesmo das suas certezas. Mas, atenção, ressuscita, depois. Ou seja, reassume todo o seu ser, todo o seu "Eu", mas, digamos, já fortalecido, robustecido, consolidado, transformado pela experiência que foi perdê-lo.

Então, que conclusão tirar ?

Como religião de preceitos sociais, o Cristianismo é de vivência colectiva. O próprio Jesus havia dito "Onde dois ou mais estiverem juntos em meu nome, eu estarei no meio deles" (Mat.18:20). Ou seja, a morte, a aniquilação do nosso "Eu", só tem sentido se acontecer para que algo nasça de novo. mais robustecido. Jesus não diz "Onde um estiver em meu nome", mas, sim, têm de ser dois ou mais...; assim, só faz sentido que eu deixe "cair" a minha concepção de vida, a minha ideologia, a minha personalidade, se, daí resultar o surgimento de uma nova ideia de vida, uma nova forma de ver o mundo, uma personalidade nova.

É este o sentido social da morte de Cristo : Não há personalidades, certezas, ideias, filosofias, que se possam considerar fortes se, continuamente, não estiverem dispostas a deixar-se "cair" a "negar-se", para que depois nasçam de novo, mais robustas e transformadas.

Esta "negação" tem um profundo sentido social. Se eu, perante o outro com que me relaciono (em casa, no trabalho, na vida social e política, etc), me dispuser a perder a minha ideia (mesmo que a julgue a mais adequada), a minha concepção, a minha imagem, concerteza estou mais aberto a ouvir o outro, a considerar a sua opinião, a ver o positivo das suas propostas. E o outro, se estiver na mesma disposição de "negar-se a si mesmo", sem dúvida que, entre nós, no meio de nós, nascerá uma ideia mais perfeita, uma concepção mais aperfeiçoada, uma opinião mais consensual, uma maneira mais eficaz e eficiente de fazer face ao problema.

Mas tudo começou porque alguém "morreu" para si mesmo...; mas fez isso não pelo prazer da dor e da "morte", ou para se "auto-flagelar" ou humilhar de forma masoquista, mas para, três dias depois, "ressuscitar" .

E mudou o mundo e a vida de muitos.

Por isso, faz sentido "morrer", mas para "nascer de novo".

Vila Franca do Campo (Açores), Páscoa de 1992



sexta-feira, 26 de março de 2010

Por uma Economia Social sem ter vergonha de ser "economia"..






Porque ninguém é "profeta na sua Terra", aqui entendida como o local onde se vive e trabalha, foi em Évora (onde, por sinal nasci, mas, há muito, não é a minha terra), recentemente que fiz esta reflexão sobre a experiência dos contratos locais de desenvolvimento social (CLDS), num encontro de profissionais locais envolvidos nessa estratégia, que partilho com quem gosta do tema.

A SUSTENTABILIDADE POLÍTICA E FINANCEIRA DOS CONTRATOS LOCAIS DE DESENVOLVIMENTO SOCIAL , NUM AMBIENTE DE MUDANÇA

Abel Maria Simões Ribeiro
Sociólogo; Consultor em Economia Social
abelsimoesribeiro@gmail.com


O objectivo desta reflexão é tentar ver os CLDS, como estratégia actual, á luz das mudanças que, desde meados da década de 90 do século XX, as tutelas e algumas organizações têm tentado introduzir, quer no modo como as instituições sem fins lucrativos encaram a sociedade envolvente, quer sobre a representação que esta tem sobre aquela; assim, poderemos apontar, depois, de forma aligeirada, algumas ameaças e oportunidades que esta experiência de “contratualizaçãoproporciona, assim como reflectir sobre a sua sustentabilidade política e financeira.
1. A “Estratégia de Lisboa” e o espírito dos CLDS, como verdadeira sustentação política
Em 2000, durante uma das Presidências Portuguesas da União Europeia, foi delineada a chamada “Estratégia de Lisboa”, que se consubstanciou no chamado “Triângulo de Lisboa”, com três vértices, sintetizado na afirmação sobre a Europa que se desejava : com cidadãos com cada vez mais qualificações, cada vez a dominarem melhor as novas tecnologias emergentes, cada vez socialmente mais incluídos.
Define, ainda, que as políticas (económicas, sociais, etc.) relacionadas com cada um desses vértices, devem seguir um “método aberto de coordenação”, ou seja, devem envolver, de forma transversal, na sua concepção, gestão e execução, todos os 3 sectores: lucrativo, não lucrativo, sem fins lucrativos.
Mais: essas políticas deveriam ter documentos orientadores, produzidos dentro da tal metodologia aberta, que deveriam fixar objectivos comuns e definir como cada um dos 3 sectores contribuiria.
Surgiram, então os Planos Nacionais de Acção para a Inclusão (PNAI), com duração bienal.
Mais : a ideia era que esses PNAI fossem a “Bíblia” da intervenção sobre a cidadania e inclusão e que, os PDS municipais, os planos de actividades de cada instituição plasmassem as directrizes e metas do PNAI.
E que os dinheiros públicos (nacionais e comunitários) sobretudo, fossem atribuídos a quem se inserisse, com clareza, nas directivas do PNAI.
Mais. a Estratégia de Lisboa definia que, para o período de execução dos Fundos Estruturais (vulgo QREN), deveria privilegiar a figura das Estratégias de Eficiência Colectiva (EEC), ou seja, Programas “chapéu”, cujo único objectivo seria, em torno de um território ou de uma problemática, consorciar agentes dos 3 sectores em torno de uma estratégia por eles definida, estratégia essa que seria, depois, financiada pelos chamados programas operacionais : o POPH, o POCompete, o POVT.
O CLDS, embora não tenha tido honras de EEC, foi considerado uma “estratégia” e a Portaria que o cria plasma essa vontade.
Ou seja, contratualizar, entre os actores dos 3 sectores, uma estratégia, definir as suas acções, procurar as fontes de financiamento.
Corresponde isto á realidade?
Infelizmente não. Esta lógica consorcial surgiu já APÓS estarem, no terreno, os vários Programas Operacionais.
Mas a sustentabilidade política passaria por aqui: assumir esta estrutura de hierarquia de planeamento, numa primeira análise.
2. O CLDS enquanto esperança na lógica consorcial
A estratégia CLDS é definida, na portaria que a cria, como “filha” das fragilidades detectadas nas estratégias definidas nos PNAI.
Mas, de facto, quantos de nós, que andamos na Acção Social, leram os PNAI que já existiram, os usam como linha de orientação, os referem, que seja, nas suas candidaturas ?
A estratégia CLDS é definida, na Portaria que a cria, como uma oportunidade de, em consórcio, mobilizar os recursos da comunidade para encarar, de modo organizado, os problemas do emprego e da qualificação, da intervenção familiar e parental, capacitação institucional, acesso a novas tecnologias.
Quando foi divulgado, em 2007, a estratégia CLDS foi apresentada como um modo de comprometer, verdadeiramente (daí ser um “contrato”), as instituições, em torno da abordagem dessas questões.
Falava, inclusive, em articulação e integração de acções complementares às propostas pelas instituições Coordenadoras, inclusíveis na estratégia e financiadas por outros Programas.
Tenho dúvidas que esse seja o entendimento que, em muitos locais, se faz do CLDS.
De quem será a culpa de todo este entendimento enviesado das coisas, que prejudica a dita sustentabilidade política ?
Antes de mais do discurso que as instituições sem fins lucrativos fazem de si mesma e da representação que os poderes tutelares têm das mesmas.
De que serve, de facto, falar de estratégia ou de um contrato, quando as “corporações” (CNIS, União das Misericórdias, União das Mutualidades, Cáritas Portuguesa, etc) que congregam essas instituições são as primeiras a ter um discurso e uma prática “de mão estendida” (e às vezes, de joelhos), perante as tutelas, em vez de se afirmarem como um sector de actividade (o terceiro sector, a “economia social”), que tem características próprias, mas que tem um peso real na sociedade e é tão digno como os outros? De que serve falar de planear, articular e integrar acções, quando a lógica das instituições é “cada uma por si” e “pedir” o mais possível, como “esmola” ? O que dizer do eterno discurso de que “substituímos o Estado nas sua obrigações”, quando deveriam ter orgulho em dizer que fazem o que o Estado e o Mercado também fazem, mas numa perspectiva democrática, solidária, de participação, logo, economicamente mais concorrencial, porque mais barata ?
Mas, as tutelas também não são inocentes.
3 . Detenhamos-nos na sustentabilidade financeira
A primeira grande “traição” das tutelas foi não respeitar, na articulação dos fundos estruturais, o tal princípio dos “programas chapéu”. Mais uma vez, IEFP, ISSS, CCDR, ficaram cada um como o seu “queijo”, não partilhando o modo como o distribuir.
Existem exemplos um pouco chocantes, mesmo relacionados com os CLDS, que me escuso de referir. Menciono, só, o facto, por exemplo, da gestão do POPH (mas podia ser do ESCOLHAS) não estar a minimamente, valorizar os projectos apresentados, que mencionam ser complementares á estratégia do CLDS. Mais, os técnicos que fazem a análise vislumbram sobre-financiamentos onde nem sequer existem !
Contudo, continuo a defender que os CLDS são uma oportunidade única de “reabilitação” da Economia Social. Desde que quem se assumam como tal.
Desde que o promotor (Câmara) se assuma com tal e, nomeadamente, através da Rede Social, motive e mobilize parceiros e respeite a autonomia da (s) entidade (s) Coordenadora (s).
Depois, urge que a(s) entidade(s) Coordenadora(s) percebam que têm em mãos, como o CLDS, uma estratégia, e não mais um simples e meritório “projecto” ….
O “tipo ideal” (vénia ao velho Pai da Sociologia Max Weber) de CLDS seria, por exemplo, aquele onde as entidades Coordenadoras, em articulação com a entidade promotora, mormente a Rede Social, conseguem que as entidades da economia social comecem a ligar importância ao Plano de Desenvolvimento Social, “inscrevam” nele os seus planos de actividades e, sobretudo, articulem as acções entre si, rentabilizando recursos. Eis um “contrato” real.
Depois, estabelecer o “espírito” do contrato a todos os outros sectores, incluindo aos serviços públicos”: porque andamos quase todos a fazer o mesmo, ou seja, exemplificando, atender utentes que, ciclicamente, e repetidamente, expõem os mesmos assuntos à Caritas, ao NLI do RSI, ao Centro de Emprego, etc? Porque não “contratualizar”, entre todos os intervenientes, públicos e solidários, uma economia de esforços, criando figuras novas, tiradas de outros ambientes, como o “Gestor do Utente”, único que o atende e encaminha ou, mesmo, acompanha, mas que fica como sua referência para ser contactado por todos os serviços envolvidos e responde pelo seu utente?
E “contratualizar”, com os privados, os tais que não têm medo de dizer que buscam o lucro ou que precisam de ganhar dinheiro, serviços que eles prestam melhores do que nós, mas em ambiente consorcial, ou seja, para o vasto conjunto dos outorgantes do vasto “contrato” (assessoria jurídica, contabilística, na procura de fontes de financiamento? Não haverá jovens licenciados, desempregados qualificados, disponíveis para desafios deste tipo, recorrendo, por exemplo, ás políticas de emprego tipo “Emprego 2010”) ?
Os Contrato Locais de Desenvolvimento Social constituem uma esperança nesta nova filosofia de planeamento estratégico.
A Caritas Arquidiocesana de Évora, pelo seu vasto território, pode fazer do CLDS (que não o abarca todo) uma experiência piloto da contratualização, mais global, que, pode fazer com a autoridade moral que tem, com todas as instituições sociais que tutela e, depois, com toda a sociedade envolvente.

Assim o consiga. Não tenho dúvidas que, adaptando o que diz uma das figuras míticas deste tempo, “Yes, you can !”.

Évora, 23 de Março de 2010